quinta-feira, 27 de setembro de 2007

TROPA DE ELITE - Receita anti-hipocrisia


Vi há dois dias uma cópia, pirata, do filme "Tropa de Elite", de José Padilha. Antes de mais nada deve-se saber que a versão que está circulando de mãos em mãos, ilegalmente, parece não ser a que vai estreiar no dia 12 de Outubro no Brasil. Como está a coisa...Eu aqui escrevendo que vi uma cópia pirata..., mas sou só mais um entre os mais de três milhões que já devem ter visto, no mesmo esquema. O que não tira minha culpa. Já assumida.Mas há males que vem pra bem.E, como se sabe, a propaganda boca-a-boca, blog-a-blog é a mais efetiva.

Ou seja, no fundo me sinto fazendo parte da onda de marketing informal que está transformando esse filme num fenômeno como 'nunca antes na história desse país'...

Hávidos, impávidos e supra leitores...QUE FILME É ESSE!!

Ritmo ótimo, direção maravilhosa. Adrenalia pura. Edição coerente. Uso de câmeras que se assemelham a documentário mesmo. E a escolha perfeita do elenco. Atuações primorosas. E o ator Wagner Moura se consolidando como "O" cara. Arrisco dizer que é o melhor filme do ano no país.

Claro que não vou narrar cenas, nem nada que comprometa a expectativa da 'platéia'. Be quiet.

Mas eu diria que temos, a partir dessa película, mais um diretor de Respeito para fortalecer nosso cinema: José Padilha. Não que ele já não tenha o devido respeito. Padilha é o diretor do documentário "Ônibus 174",de 2002, sobre o sequestro de Geisa Gonçalvez por Sandro do Nascimento, em 12 de junho de 2000. No Rio de Janeiro. Um filme que chocou pela crueza da realidade retratada.

Tropa de Elite me sugere ser um aprofundamento das questões levantadas, romanescamente, se é que se pode dizer isso, por "Cidade de Deus". E esse é seu principal contraponto. São filmes irmãos, porém antagonistas. Em "Cidade de Deus" ficamos querendo ser o 'Dadinho'. Aliás, "Dadinho é o caralho, meu nome agora é Zé Pequeno, porra". Ou seja, o bandido, traficante, ou a vítima da caótica situação social.

Está tudo lá. Mesmo que pareça 'leve', depois de Tropa de Elite. As condições sub-humanas de sobrevivência do pessoal do tráfico, os 'playboys' que financiam esse sistema, a polícia corrupta.

Já em T.d.E. também vemos tudo. Só que com uma lupa vermelho-sangue. Numa crueza que engana a ficção.

Nele temos o outro lado, o da Polícia...em especial do BOPE (Batalhão de Operações Especiais do Rio de Janeiro). O pessoal do BOPE, segundo o belíssimo roteiro de Rodrigo Pimentel (ex-BOPE) e do próprio José Padilha, parece ser o contingente policial mais hardcore do Brasil. Quiçá do mundo. Porque guerra urbana mesmo é ali, entre as mais de 700 favelas do Rio de Janeiro.

O filme explode, como um tapa na cara, o funcionamente do sistema dentro do sistema. Ou seja, como a Polícia do Rio consegue sobreviver graças a toda sorte de malabarismos, golpes, mandingas, corrupções, contravenções, crimes, crimes e mais crimes. A corrupção dos políticos, a complacência dos comerciantes, e por aí vai.

E PRINCIPALMENTE, A RESPONSABILIDADE (IRRESPONSABILIDADE) DA CLASSE MÉDIA, PARA CIMA, NO FINANCIAMENTO DA TRAGÉDIA HUMANA QUE OCORRE NO RIO, E NO MUNDO, POR EXTENSÃO.

Como? universitários que fumam maconha, por exemplo. Aí eu mesmo aumento para a classe artística, alternativos, intelectuaizinhos e moderninhos em geral.E importante, me incluo por aí nessa fauna.

Em T.d.E. há um 'núcleo' de personagens universitários, que trabalham em ONG num morro. Mas eles mesmos, paradoxalmente, ajudam a financiar a merda toda. Um questão de verdadeira consciência,coerência e responsabilidade.

É uma bigorna na cabeça, na consciência, na dialética, retórica, demagogia ou hipocrisia mesmo de quem adora fazer passeata contra o crime, mas cheira cocaína e/ou fuma maconha. De quem se instiga por justiça social, consciência social, ecológica, política, mas fuma maconha. De quem sonha em ter um país melhor, forma grupos de atividades para 'revolucionar'e mudar o mundo, mas fuma maconha. De quem lê Marx, Engels, Tolstói, Horkheimer, Adorno, etc, e fuma maconha. Ou seja, desconstrói sem chance para réplica toda a hipocrisia reinante há séculos qualquer discurso frívolo, raso e superfícial de quem diz mas não age. No melhor estilo "faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço".

Diz-se que quem faz algo errado sem saber que é errado, está livre das consequências. Digamos 'pecado'. Porém, quem faz algo errado tendo plena consciência de que está errando, esse sofrerá as consequências inevitavelmente...

Tropa de Elite, espelho duro de se ver, pega um pega geral, também vai pegar você.

a revolução vai passar na tv, pode crer

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1 Comentários:

Às 27 de setembro de 2007 às 18:08 , Blogger Leo Santos disse...

Brother,
ótima leitura do filme... parabéns... Também sou mais um entre os mais de três milhões que já devem ter visto, no mesmo esquema!

 

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