terça-feira, 29 de janeiro de 2008

BRASIL - UM GRINGO OLHAR

O Jornal britânico Herald Tribune publica hoje texto de correspondente sobre o Brasil e sua tática de ir 'comendo pelas beiradas' no jogo político global.

Porém, é a visão de um estrangeiro que chega e vai para o 'Hotel Fasano'.Um dos maiores de São Paulo e do país. No mínimo, sua perspectiva é bem estreita, mas é uma boa 'vibe'.

"29/01/2008
Redescobrindo as vantagens secretas do Brasil

Tyler Brule*

As letras que formam a sigla do aeroporto, GRU (Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo), não aparecem tão freqüentemente quanto deveriam nos meus itinerários de viagens. Após uma ausência de quatro anos e meio, eu finalmente consegui aterrissar em São Paulo na semana passada, e imediatamente comecei a folhear a minha agenda a fim de encontrar uma desculpa para voltar para cá o mais rapidamente possível - espero retornar por volta da Páscoa.

Eu havia me esquecido dos pequenos truques para se locomover por uma cidade enorme, perigosa e ingovernável às altas horas da noite. Durante a jornada a partir do aeroporto, foi só quando quase chegávamos ao hotel que percebi que o meu motorista não havia parado em nenhum dos semáforos. Serpenteando pelas ruas do bairro dos Jardins, tinha me esquecido do quão aconchegantes, e ao mesmo tempo, tão animadas, são certas partes da cidade. No salão de entrada do Hotel Fasano eu tinha me esquecido de que ainda é possível encontrar garçons e atendentes de bar de 60 anos de idade - e talvez até de 70.

Apesar do fato de o Brasil ter anunciado a descoberta de mais uma outra reserva maciça de gás natural ao largo da costa do Rio de Janeiro no início desta semana, de ter recebido uma quantidade recorde de investimentos em 2007 e ser a terra da Embraer, a terceira maior fabricante de aeronaves do mundo, eu às vezes tenho a sensação de que o mundo esqueceu-se de que BRIC (o acrônimo referente a Brasil, Rússia, Índia e China) começa com a letra "B".

Com a maior atenção mundial concentrada na Rússia, na Índia e na China, o Brasil muitas vezes dá a impressão de desempenhar o papel de coadjuvante em relação aos outros três países. Para aqueles que fazem investimentos inteligentes ou que garantiram para si aquele terreno perfeito à beira-mar em Salvador, talvez o fato de o Brasil ser pouco percebido não seja ruim.

De volta ao bar, o garçom galante, um pouco áspero e de paletó branco conversa e gesticula com fregueses paulistanos, falando em português, espanhol, inglês e italiano. Ele transmite a impressão de que trabalha no hotel há uma eternidade, o que seria esquisito, já que este hotel não tem nem cinco anos de idade. Será que ele já tinha uma experiência de 25 anos no Maksoud Plaza antes de vir trabalhar aqui? Isso é mais do que provável. É esse relacionamento pessoal amigável e altamente pessoal que também revela duas armas secretas do arsenal brasileiro de vantagens econômicas de impacto - cordialidade e multilingüismo.

Nunca houve escassez de agências de turismo em outros países que fizeram campanhas nacionais sobre a cordialidade do seu povo e o clima ameno da terra - geralmente sem muito sucesso. No caso do Brasil, entretanto, isso é algo sobre o qual os vários ministros em Brasília jamais precisam falar. É um fato reconhecido internacionalmente que existe uma certa profundidade de alma e um ritmo gentil de bossa nova permeando a maioria da população brasileira.

Estrangeiros que passaram um tempo no Brasil trabalhando para as suas companhias mencionam freqüentemente a dificuldade que sentem para partir, e dizem por que investiram em uma segunda casa em uma parte agradável e ensolarada do país antes de ir embora. Este tipo de declaração não é ouvido com freqüência por parte das pessoas que estão voltando de Shenzen ou de São Petersburgo.

Com o alemão, o japonês, o italiano, o inglês, o espanhol, o árabe, o francês e, é claro, o português, bastante falados, o Brasil se constitui em um campo de habilidades lingüísticas que confere ao país uma vantagem não só no âmbito regional, mas também global. Acrescente a isso uma piscada aqui, um meneio ali, e talvez esta seja uma mistura imbatível.

São Paulo, Rio de Janeiro e outras cidades brasileiras importantes não apreciam as cidades de crescimento explosivo que estão sendo criadas na China, transformadas na Rússia e renovadas na Índia. Quem passeia por São Paulo não vê nenhuma floresta de guindastes, e tampouco astros da arquitetura tentando construir a sua primeira grande marca na América Latina.

Isto não quer dizer que não há desenvolvimento, mas sim que a sensação é de um desenvolvimento ligeiramente mais contido - um novo shopping center de luxo feito por uma firma local de arquitetura aqui; um prédio de escritórios novo, apesar de sem nada de extraordinário, para uma firma multinacional ali.

Sob uma perspectiva de relações públicas, isto não está gerando manchetes de primeira página de jornal, e a falta de projetos grandiosos faz com que o Brasil se sinta meio que como um passageiro deixado na parte anterior do ônibus.

Porém, ao mesmo tempo, cidades como São Paulo podem também observar com calma e entender um pouco o que está ocorrendo nos subúrbios de Moscou ou naquilo que tornou-se o novo coração de Xangai. Como o país não é nenhum leigo quando se trata de experiências ousadas em urbanismo e em obras arquitetônicas heróicas (basta ver Brasília), não há porque mostrar timidez diante das estruturas inovadoras feitas por arquitetos ambiciosos.

Talvez ao ganhar tempo e acompanhar atentamente os erros cometidos pelos outros concorrentes do BRIC, o Brasil possa empregar os seus já desenvolvidos programas de sustentabilidade e a sua população para criar as mais habitáveis e inspiradoras cidades dentre as principais economias emergentes mundiais.

Ainda há um longo caminho a ser percorrido, mas os recursos e o talento já estão presentes.

* Tyler Brule é editor-chefe da revista "Monocle". Ele mora na Suíça, na Suécia e no Reino Unido.

Tradução: UOL
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1 Comentários:

Às 29 de janeiro de 2008 às 11:25 , Blogger Paulo Bemfica disse...

bacana, manda pro miguel :)

 

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